Contagem de números
Contagens regressivas terminam no Zero, é inevitável.
Quando contamos para frente, estimulamos um fim ou paramos em reticências.
Seguem para o infinito e para as et cetera.
Os nossos anos são uma contagem com fim, repentinamente um ponto final é colocado na existência. Alguns acreditam que se trata de uma vírgula e há ainda aqueles que apostam em exclamações ou reticências.
O que consigo ver em cima dos túmulos? Meu lado agnóstico vê interrogações, meu lado ateísta enxerga apenas um ponto final.
É como se a contagem dos anos fosse ascendente até certo ponto, nós otimistas continuamos contando para cima, mas nossos DNA’s insistem em contradizer e puxar a contagem regressivamente, rumo ao zero. O maldito ponto inicial da inexistência onde interrogações aguardam, não a nós, mas aos observadores.
Números e sinais gramáticos para encerrar uma história. Sabemos quando é o fim, em seu momento derradeiro, mas nunca podemos dizer com exatidão – Estou no meio de tudo!
O meio torna-se apenas uma fase subjetiva, algo impreciso do qual prefiro não pensar.
É tudo apenas mais uma festa, mais uma comemoração, um motivo que diz que mais virá. O erro talvez seja contar.
O ser humano não foi feito para números, fomos feitos para comunicações gramaticais. Uma vida boa e bem aproveitada é aquela feita de inúmeras e inexplicáveis exclamações. Quando somos detentores do poder fazê-las surgirem em rostos, sorrisos, pessoas e lugares. Talvez esse seja o grande segredo da vida – ignorar os números e inserir pontos.
Após as tristezas um “mas, vírgula – ele tornou-se feliz”.
Após as alegrias um “e depois disso – vírgula – continuou sendo feliz”.
Após a vida encontrarmos uma “exclamação – uau! É isso que acontece”.
Se descobrirmos o meio, apenas “reticências – e tudo continuou fluindo”.
Porque a vida não é pra ser analisada... é pra ser vivenciada.
Não quero camarote para assistir a vida, sou ator, sou diretor – estou no palco! E nem preciso de platéia para saber que estou indo bem.